terça-feira, 13 de abril de 2010

O poder de uma ação


Primeira visita a um Hospital, hoje. Corredores cheios, pecientes nos leitos. Meningite, leptospirose... Uma enfermeira nos conduz nessa visita ao Hospital Couto Maia, especializado em doenças infecto-contagiosas. A estrutura é incrível. Ao entrar em uma das salas, na ala das mulheres, nos deparamos com uma mulher de uns 28 anos, sentada em sua cama e com um leve ferimento no canto da boca.
A enfermeira acena para o ferimento nos explicando que aquilo era um tipo de Herpes simples.
Olho para aquela mulher e vejo sua expressão facial totalmente mudada, constrangida, como se aquela exposição a envergonhasse de alguma forma, já que estava diante de 10 estudantes de medicina, todos olhando para a sua ferida como se ela fosse um mero objeto de estudo.
Não aguentei, de lá de trás soltei: EU TAMBÉM TENHO HERPES SIMPLES!
Todos me olharam assustados, alguns até sem saber o que era a Herpes Simples.
Continuei: Sim! tenho Herpes simples. Lá em casa quase todo mundo tem. E muito pelo contário do que pensam, é muito comum se ter o vírus da Herpes. Cerca de 90% das pessoas já tiveram ou terão contato com o vírus, mas muitos não apresentam a doença porque seu sistema imune mantém um controle sobre seu organismo. Quando temos, por exemplo, alguma baixa na imunidade, podemos expessar a doença que se caracteriza na aparição de leves ferimentos bolhosos em determinadas partes do corpo. A trasmissão geralmente ocorre de pessoa para pessoa, às vezes, sem que haja lesões ativas...
E a enfermeira, depois da minha interrupção, foi completando a minha explicação à medida em que saíamos do quarto.
Os colegas continuaram a ouvir a enfermeira atenciosamente, já que para alguns, aquelas informações eram novas.
Como era a ultima da fila, pude ver, antes de sair, a expressão(agora de alívio) da paciente, que me olhou e sorriu, como se dissese, Obrigada moça.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A crise que estamos esquecendo....


Em tempos de crise não se pensa em mais nada! Não se fala em mais nada. O mundo fica um caos, preocupações a mil.

As preocupações são tantas que, muitas vezes, nos esquecemos de olhar à nossa volta, de atentar para pequenas crises que nos acometem todos os dias, a todo o momento...

Chamo de crise, tudo aquilo que foge ao nosso controle: as relações interpessoais, a violência, a fome. Sim, a fome!

Hoje, me deparei com uma cena lamentável. Ao sair do mercado, vi dois seguranças enormes espancando um menino que deveria ter uns 10 anos de idade. Puxões de orelha, pontapés. Fiquei estatelada e pensei comigo:seja lá qual for o motivo, esses brutos não tem o direito de encostar o dedo nessa criança. Quis me aproximar e acabar com aquela cena, mas confesso que fraquejei- estavam todos muito agitados, acho que minha voz não faria diferença naquele momento.

Me calei e observei, assim como todos à volta.

O motivo dessa barbárie: o menino tentava sair do mercado com um saco de pão, encondido na roupa. Em plena confusão, enquanto os seguranças se preocupavam em bater, o garotinho tentava, às lágrimas, segurar o saco de pão que tanto necessitava. Necessitava sim, eu pude ver em seus olhos, nos seus gritos a importancia que aqueles poucos pães tinham, naquele momento.

Findada a cena deplorável, perdi a noção de tempo e espaço. Fiquei parada, refleti.

Nunca passei fome na vida, e não consigo nem imaginar o que seria capaz de fazer para conseguir comida, se não a tivesse garantida todo dia. Tentei ir atrás do menino, quando sai do mercado, mas já não o encontrei. Embora não tivesse pão, nem mesmo dinheiro, tinha comigo duas barras de chocolate que tinha acabado de comprar...queria poder ajudar de algum jeito!

Algumas horas já se passaram e a cena não vai embora.

Até agora não me sai da cabeça o fato de eu estar de banho tomado, barriga cheia e agasalhada, enquanto aquele pobre menino está por ai, debaixo dessa chuva que não pára, com a barriga vazia e o pensamento naquela sacola de pães...

O que é uma crise financeira diante da fome que atinge mais de 900 milhões de pessoas, no mundo? Ela está do meu lado, do seu lado. Em todo lugar.

Tristeza. Impotência. É assim que me sinto.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mai


Quando pequena, te chamava de mãe.
Quando chorava, era você quem vinha me dar um afago, acalmar minha tristeza.
Nossas conversas foram as melhores e seus conselhos abriram muitos "caminhos" para mim...
A diferença de idade, nunca foi obstáculo na nossa relação. Muito pelo contrário, nossa relação sempre se deu de igual para igual. Você sempre me entendeu, me ouviu- poderiam ser as coisas mais bestas do mundo, mas você estava ali, junto comigo.
É com você que divido segredos (só nossos!). É você que me faz sentir melhor, quando acho que tudo está perdido.
Determinada, nunca desistiu dos seus sonhos ou abdicou de suas vontades. Se jogou de corpo e alma nessa vida, e é por isso que te admiro tanto.
Me disse que a vida é curta demais para deixarmos de fazer aquilo que queremos.
Me levou, pela primeira vez, pra fazer a unha, sombrancelha(lembra da satisfação?) e TATUAGEM.
Se desesperou comigo atrás do resultado do vestibular, e me deu força para que eu continuasse nessa guerra, mesmo tendo perdido uma batalha.
Você colocou no mundo a menina mais maravilhosa, linda e amada desse mundo; você me deu alegria!
Mãe exemplar. Filha amorosa. Irmã companheira. Fiel escudeira!
Você é um orgulho para mim!
Tenho muita sorte por te ter como irmã. Eu te amo muito e queria te dizer que você é especial para mim.
Parabéns mai, parabéns mãe.
Mai, mãe, mai, mãe, Mai...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Medicina

Para muitos, a escolha profissional segue, apenas, a um critério: o retorno financeiro. Para outros poucos, a satisfação pessoal também deve existir, embora, esta mesma seja colocada em segundo plano.
Eu sou do contra. Acredito piamente que, para sermos bons no que fazemos, devemos ter prazer e satisfação até nas coisas mais simples e rotineiras da nossa profissão. E foi por isso que escolhi a medicina. Para quem não me conhece, deixe-me explicar: Eu não sou médica, apesar de já me sentir como tal. Sou filha e irmã de médicos. Cresci no interior, e sempre convivi com pessoas que iam a nossa casa se consultar com os meus pais. Achava um barato o "poder"(sim, para mim aquilo era mágico) que eles tinham de curar dores e machucados que me pareciam incuráveis –tudo, na mais perfeita calma e firmeza. Sempre tive vontade de fazer igual...de ouvir um “obrigada Doutora, você salvou a minha vida!”. Hoje, estou num cursinho pré-vestibular, na disputa acirrada por uma vaga para Medicina, na Universidade.
Amo a medicina em todos os seus aspectos, e a vejo como um trabalho social no qual o retorno mais importante vem, da forma mais natural e bela: a vida.
A vida que nasce nos nossos braços, a vida que morre neles, a vida de que se renova.
Tem gente que não acredita, mas não quero ser uma médica como todos os outros. Posso até ser infantil com esse sonho de querer mudar o mundo com tão pouco(pouca experiência, pouca idade, pouca maturidade...), mas não aceito a idéia de ter o conhecimento e não poder fazer nada por aqueles que precisam de mim. Quero muito poder ajudar aqueles que estão na zona rural, longe de qualquer apoio ou informação; aqueles que moram nas periferias, longe do saneamento básico e dos planos de saúde. Quero trazer vidas ao mundo, quero curar dores.Quero dar atenção à quem não tem...
Quero ouvir e ser ouvida. Quero dizer ao mundo que nem tudo é como aquilo que vemos na televisão. Quero gritar. Quero mostrar que a África parece estar longe, mas pode estar bem mais perto de nós do que imaginamos. Quero mudar. Quero tossir todas as lamúrias... tirá-las de mim. Mas quero agir.
Pode parecer utopia, mas tenho a vontade de sair por esse “mundo de meu Deus” ajudando a quem necessita, pondo em prática o Direito que todos têm de serem atendidos dignamente, com atenção e a qualidade que, infelizmente, pouco se vê. Um médico não deve tratar dessa ou daquela pessoa, um médico de verdade deve tratar do ser humano, independente de cor, raça ou situação econômica.
Por enquanto, minha história se baseia em sonhos, em “queros”...Mas tenho comigo a certeza de que posso fazer pelas pessoas muito mais do que já foi feito. Não tenho provas de que tudo o que, sempre, falei e desejei se realizará, mas nunca deixarei de fazer algo por falta de vontade, afinal, tenho fome de justiça e sede de respeito.
Minha sorte está lançada...

JURAMENTO DO MÉDICO
PROMETO:Que ao exercer a arte de curar, me mostrarei
Sempre fiel aos preceitos da honestidade,
Da caridade e da ciência.
Penetrando no interior dos lares,
Meus olhos serão cegos,
Minha língua calará os segredos
Que me forem revelados os quais terei
Como preceito de honra;
Nunca me servirei
Da minha profissão para corromper
Os costumes ou favorecer o crime.
Se eu cumprir este juramento com Fidelidade,
Goze eu a minha vida e a minha
Arte com a boa reputação entre os homens
E para sempre; se dele me afastar
Ou infringir suceda-me o contrário.
Hipócrates – 460 A. C.